Abertura

2021…

Que da Abertura à vida e ao Outro, encontremos o centro em nós e nos tornemos naturalmente imunes a qualquer maleita individual ou colectiva.

Mais inocência, mais perdão, mais união, mais confiança.

Mais maturidade, mais cooperação.

Toda a Coragem. 

Por uma existência que seja cada vez mais forte, leve e luminosa, com saúde, alegria e arte.

Gratidão.

Om Point

E se …

E se a nossa religião fosse um ao outro?

Se a nossa prática fosse a nossa vida.

Se a oração, as nossas palavras.

E se o templo fosse a Terra.

Se as florestas fossem a nossa igreja.

Se água benta – os rios, lagos e oceano.

E se a meditação fosse os nossos relacionamentos.

Se o professor fosse a vida.

Se a sabedoria fosse o autoconhecimento.

Se o amor fosse o centro do nosso ser.

Ganga White

Deixas-te convidar?

– E se o convite for simplesmente estar, ficar comigo em silêncio ?

Não sou nenhuma figura que admiras, aplaudes, segues ou seguirias inquestionavelmente. Não tenho qualquer talento, aptidão ou qualidade que te fascine ou interesse especialmente. Não te tenho a ti qualquer utilidade, aparentemente.

Também não estou triste, não estou doente, não estou, talvez, à beira da morte. Não estou na miséria, não te estou a pedir socorro, esmola ou caridade. Nada me deves ou és obrigado. Não tenho qualquer limitação ou fragilidade de que te compadeças ou sintas no dever de acudir, aparentemente.

No entanto, aqui estou eu e a convidar-te a acompanhar-me. Em vida, em presença, em percepção…

Talvez na descoberta de algo… maior? diferente? único? surpreendente?…

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– E se o convite for simplesmente responder com leveza a este simples e talvez comum desafio?

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Aceitas? 

Aventuras-te?

Arriscas-te?

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Além de qualquer lógica ou motivação, eu aqui disponível para contigo estar, partilhar, descobrir.

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Tem a vida para cada acontecimento uma justificação? 

Haverá uma fórmula para cada existência, sentimento, acção?

Uma fórmula para cada vida? 

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Desafio-te para que descubras por ti o que poderás encontrar na entrega a esta simplicidade de estar, ser comigo em silêncio.

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Fora os medos, fora as expectativas, fora os preconceitos.

Comigo Em Silêncio.

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Deixas-te convidar?


© ompoint.org 2020

http://www.ompoint.org/pt/events/

Causalidades 1

“O mundo é de quem não sente. A condição essencial para ser um homem prático é a ausência de sensibilidade. A qualidade principal na prática da vida é aquela qualidade que conduz à acção, isto é, a vontade. Ora há duas coisas que estorvam a acção – a sensibilidade e o pensamento analítico, que não é afinal, mais que o pensamento com sensibilidade. Toda a acção é, por sua natureza, a projecção da personalidade sobre o mundo externo, e como o mundo externo é em grande e principal parte composto por entes humanos, segue que essa projecção da personalidade é essencialmente o atravessarmo-nos no caminho alheio, o estorvar, ferir e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir.

Para agir é, pois, preciso que não nos afiguremos com facilidade as personalidades alheias, as suas dores e alegrias. Quem simpatiza pára. O homem de acção considera o mundo externo como composto exclusivamente de matéria inerte – ou inerte em si mesma, como uma pedra sobre que passa ou afasta do caminho; ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, tanto faz que fosse homem como pedra, pois, como à pedra, ou se afastou ou se passou por cima.

O exemplo máximo do homem prático, porque reúne a extrema concentração da acção com a sua extrema importância, é a do estratégico. Toda a vida é guerra, e a batalha é, pois, a síntese da vida. Ora o estratégico é um homem que joga com vidas como o jogador de xadrez com peças do jogo. Que seria do estratégico se pensasse que cada lance do seu jogo põe noite em mil lares e mágoa em três mil corações? Que seria do mundo se fôssemos humanos? Se o homem sentisse deveras, não haveria civilização. A arte serve de fuga para a sensibilidade que a acção teve de esquecer. A arte é a Gata Borralheira, que ficou em casa porque teve que ser.

Todo o homem de acção é essencialmente animado e optimista porque quem não sente é feliz. Conhece-se um homem de acção por nunca estar mal disposto. Quem trabalha embora esteja mal disposto é um subsidiário de acção; pode ser na vida, na grande generalidade da vida, um guarda-livros, como eu sou na particularidade dela. O que não pode ser é um regente de coisas ou de homens. À regência pertence a insensibilidade. Governa quem é alegre porque para ser triste é preciso sentir.

O patrão Vasques fez hoje um negócio em que arruinou um indivíduo doente e a família. Enquanto fez o negócio esqueceu por completo que esse indivíduo existia, excepto como parte contrária comercial. Feito o negócio, veio-lhe a sensibilidade. Só depois, é claro, pois, se viesse antes, o negócio nunca se faria. ‘Tenho pena do tipo’, disse-me ele. “Vai ficar na miséria”. Depois, acendendo o charuto, acrescentou: “Em todo o caso, se ele precisar qualquer coisa de mim” – entendendo-se, qualquer esmola – “eu não esqueço que lhe devo um bom negócio e umas dezenas de contos.”

O patrão Vasques não é um bandido: é um homem de acção. O que perdeu o lance neste jogo pode, de facto, pois o patrão Vasques é um homem generoso, contar com a esmola dele no futuro.

Como o patrão Vasques são todos os homens de acção – chefes industriais e comerciais, políticos, homens de guerra, idealistas religiosos e sociais, grandes poetas e grandes artistas, mulheres formosas, crianças que fazem o que querem. Manda quem não sente. Vence quem pensa só o que precisa para vencer. O resto, que é a vaga humanidade geral, amorfa, sensível, imaginativa e frágil, é não mais que o pano de fundo contra o qual se destacam estas figuras de cena até que a peça de fantoches acabe, o fundo-chato de quadrados sobre o qual se erguem as peças de xadrez até que as guarde o Grande Jogador que, iludindo-se com uma dupla personalidade, joga, entretendo-se, sempre contra si mesmo.”

Bernardo Soares (Fernando Pessoa), In Livro do Desassossego